quinta-feira, 11 de maio de 2017

A VOZ DAS PALAVRAS - O DIA EM QUE PERDEMOS O BLOGUE


Sabiam que um dia qualquer podiam acordar e o blogue que criaram e que tanto trabalho vos deu a manter pode já não ser vosso? Não, não se trata de qualquer espécie de virús ou do ataque de algum hacker, mas duma ameaça tão real e tão perigosa como aquelas. Pensei no assunto um destes dias e achei que a probabilidade de isso acontecer não era de todo descabída. Quantos de vós ainda se lembram do primeiro comentário, dos motivos que vos levaram a criar um blogue, dos primeiros passos pela blogosfera procurando com que alimentar este novo "amigo"? Numa grande parte dos casos começamos por escrever para nós mesmos em pequenos desabafos e depois, gradualmente vamos aumentando as expectativas, em relação ao número de visitantes e de comentários, ora porque é chato escrever sem que ninguém nos leia ora porque o vizinho do lado andou a gabar-se que tem quatro ou cinco visitas diárias, uma delas do Brasil e outro da China. Até esse momento, o grande dilema consistia em saber o que postar a seguir e com que regularidade, tendo a noção que muitas vezes a quantidade não anda a passo da qualidade, muito pelo contrário. Muitas postagens desviam a atenção que uma só teria e que assim corre o risco de passar quase despercebida apesar do trabalho e do cuidado que tivemos com ela. Outra das grandes questões torna-se em saber até que ponto devemos expor os nossos sentimentos mais íntimos e pessoais ou se, ao invés devemos guardar uma certa distância entre aquilo que somos e o que mostramos. É preciso uma grande segurança antes de confessar que enganaste a tua mulher ou que não gostas do colega A ou B por causa da roupa que ele veste. A outra questão mais premente prende-se com a linha de orientação, sobre um tema específico ou mais abrangente e variada. Os primeiros tempos são difíceis, parece que ninguém conhece o vosso blogue, apesar de estarem constantemente a mencionar o assunto, quase como por acaso, entre amigos ou colegas e vizinhos. Uma ou duas visitas, um comentário isolado como um telefonema por engano, é pouco, muito pouco para o vosso ego. Uma anedota, um comentário sobre actualidade, um assunto polémico e o blogue que começou pessoal, quase como uma piada, um desabafo do stress diário, começa a deixar de gatinhar, em busca dos primeiros passos, desafiando os seus limites, deixando-se envolver pelas potencialidades de um universo onde não existem fronteiras. Começa a fase da pesquisa, de como agradar e chegar o mais longe possível. O vizinho das primeiras caminhadas e dos únicos comentários recebidos sabe agora a pouco. As fotos são agora mais arrojadas, aplica-se a palavra "sexo" a cada duas frases ou então "Cristiano Ronaldo". Goste-se ou não do rapaz, o certo é que ele traz visitantes ao blogue. De seguida, e como se não bastasse, mudam-se as cores, poe-se música, não uma mas mais, que os gostos não são iguais. Às tantas misturamos Tony Carreira com Megadeth e Mariza com Vanessa Mae. O consequente aumento de visitantes e de comentários eleva a fasquia da responsabilidade a uma necessidade de agradar a todos, gregos e troianos. Quando nos damos conta, não é a nossa opinião que está expressa, não é a música brejeira mas que gostamos que se ouve e sentes-te um estranho em tua própria casa ou blogue. Deixa então de ser carne ou peixe e passa a ser um armário entulhado de coisas onde não consegues encontrar nada que te pertença. Não deixem que a ambição por valores fúteis esconda aquilo que são, os vossos sonhos e ideais. Este é o meu blogue, minhas paixões e frustrações, o que eu gosto e odeio, muito daquilo que sou, a alma despida quanto baste aos olhos de quem quer que por aqui passe. Uma boa semana para todos.

Sem comentários:

Enviar um comentário