domingo, 29 de janeiro de 2017

SER FELIZ



"ser feliz já não é mais poder realizar os sonhos, mas a simples capacidade de sentir sonhos" - Francisco M. Melo

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A LUZ ENTRE OCEANOS

LUZES E SOMBRAS
 "Quando uma mulher perde o marido, é uma viúva. Mas não há uma palavra para quando um pai perde um filho. Ainda é 'mãe' ou 'pai'. Embora já não tenha mais filho."

Esta é a premissa sobre a qual gira em torno a história de A Luz Entre Oceanos, o romance e o drama que envolvem o amor de Tom e Isabel, no  novo filme do americano Derek Cianfrance com Alicia Vikander - a sueca que vimos recentemente em A Rapariga Dinamarquesa, uma das mais agradáveis e promissoras surpresas do cinema recente -, o alemão Michael Fassbender - o complemento ideal para Vikander, no ecrã e na vida real, soberbo - e a confirmação da inglesa Rachel Weisz como uma das grandes actrizes da actualidade, numa panóplia de nacionalidades que resulta num filme intenso, dramático, belo e envolvente que nos prende a atenção desde o início até ao final e nos leva - aos mais incautos - às lágrimas.


Gravado na Tasmânia, o filme conta a história de um homem sorumbático marcado pela guerra, que vai trabalhar para um farol situado numa ilha australiana e se apaixona por Isabel, uma mulher mais jovem, habitante de uma vila próxima e que, da mesma forma que ele acende a luz do farol ela faz renascer nele a sua luz interior que é o desejo pela vida. A Luz Entre Oceanos é um filme de luzes e sombras, de luzes interiores, de luzes fictícias que nos guiam como as luzes do farol, da luz do parto, do nascimento, por vezes tão efémera e tão frágil capaz de desvanecer-se num derradeiro sopro de vida. Cianfrance brinca com o espectador num enredo que pode parecer básico e tantas vezes já visto mas que é na verdade um retrato fiel da vida, um emaranhado de dúvidas difíceis que se desmultiplicam num labirinto de respostas nem sempre consensuais. Neste filme nada é simples, a começar pelas escolhas que o realizador nos leva a fazer através dos personagens: vida e morte, luz e sombra, certo e errado. E se pensarmos que as atitudes de Tom ou Isabel tão diferentes entre si na sua essência são justificadas e compreensíveis, e daí presumivelmente certas, a verdade é que o certo implica o errado e à luz da ética e do moralmente correcto, Tom e Isabel atravessam o filme como se caminhassem num limbo entre o céu e o purgatório, essa linha ténue entre o certo e o errado, pecado e redenção. Aqui não há inocentes da mesma forma que na vida ninguém escapa incólume por entre os pingos da chuva sem ficar molhado. Tendencionalmente mais emotivos que racionais tomamos maioritáriamente o partido da mãe. Não ligamos mesmo se o filho é ou não dela, afinal se parir é dor, criar é amor e com isso esquecemos as dúvidas, o conflito interior que toma conta do pai que também não sendo pai não deixa de o ser. Nada é fácil e cada escolha traz as suas consequências. E se até as luzes podem ser artificiais, quão ténue pode ser a barreira entre o certo e o errado? E quem de nós pode atirar a primeira pedra?