E quando julgamos que nada mais nos pode surpreender, eis que num milésimo de segundo algumas pessoas se encarregam de virar a vida do avesso e provar que nada pode ser tomado por garantido e que para tudo - mas mesmo tudo - o que pensamos ser objectivo e simples, cristalino como água pode tornar-se turvo e complexo aos olhos e aos pontos de vista de diferentes pessoas. Quão longe estamos da idade da pura inocência como é cantada pelos Pólo Norte ou do País das Maravilhas de Lewis Carroll com o qual Sócrates se identificava? Este mês, Sarah Hall, até aí uma anónima mãe inglesa resolveu pedir que o livro "A Bela Adormecida" fosse banido do currículo escolar por transmitir uma mensagem sexual inapropriada para crianças tão novas. Em causa a cena em que o príncipe encontra a jovem princesa num sono profundo e a beija, despertando-a do feitiço da bruxa má, e tudo porque é um mau exemplo para os jovens que um desconhecido se abeire de uma mulher e sem o consentimento dela lhe dê um beijo. WTF?! Quando foi que começámos a desconfiar de tudo e de todos, a ver o mal em todo o lado? É preciso separar as águas, reaprender a discernir o certo do errado antes que seja tarde demais. Deixem-se de falsos moralismos tão ao jeito das velhas beatas, desta caça às bruxas e de todos que nos querem impingir que o sexo é o maior dos pecados e para quem qualquer gesto ou comentário mais ou menos inocente - não indecente - é visto como assédio. Kevin Spacey, cuja carreira, tida como sólida, ameaça ruir como um frágil castelo de cartas, acusado e queimado na fogueira de uma volátil opinião pública como uma nova Joana D'Arc não é um tarado, não é um monstro do qual devemos manter as crianças afastadas. Errou? Que atire a primeira pedra quem nunca pecou. Porque deixaria de ver os seus filmes? É a mesma coisa de deixar de ouvir o George Michael ou o Freddie Mercury por gostarem de homens ou ignorar a marca de Carlos Cruz na televisão em Portugal. Afinal quem tem medo do Lobo Mau? Quantos filmes, obras de arte do cinema teriam ficado na gaveta se cada caso de assédio fosse o fim da carreira de um actor, realizador, produtor? Quantas jovens aspirantes a estrelas teriam permanecido no segredo dos deuses se não tivessem cedido a essas promessas com segundas intenções, mais que assédio tácitos contratos, que só agora, no auge da fama ou no final de fulgurantes carreiras se vêem expostos, como justiceiras de uma moralidade irrepreensível e intocável, sedentas pelo sangue de quem as lançou? Não me entendam mal que não é minha intenção defender quem usa ou se aproveita desses estratagemas, mas que quando aceites não são mais que um negócio, um acordo em que duas partes concordam uma com a outra e todos ficam a ganhar. É assim desde o princípio dos tempos, não vamos enfiar a cabeça na areia e fingir que não sabiamos de nada. Do cinema à música, da moda às grandes e médias empresas, mesmo naquelas mais pequenas, na mercearia da esquina, em todo o lugar onde exista algo a ganhar. O malandro do Johnny Deep bateu na mulher, Dustin Hoffman assediou por um piropo, que agora também é crime, os sacanas dos pais natais são todos pedófilos e por isso nunca mais vamos sentar os nossos filhos nos seus colos. Censure-se a Branca de Neve que porventura poderá até ter sido um dia branca e pura, antes de se tornar adúltera e partilhar o lar com sete estranhos e ainda andar aos beijos com o príncipe. Mas que mundo é este em que vivemos? Será que o Peter Pan é que tinha razão em não querer deixar de ser criança, se ser adulto é isto? Cara Sarah Hall, deixe-me dizer-lhe que a única incongruência no beijo à Bela Adormecida aos olhos dos nossos tempos não é o abuso de quem lhe deu um beijo sem pedir consentimento, mas da inocência de quem vendo uma linda mulher adormecida não lhe roubou mais do que apenas um beijo. Se calhar nem todos os homens são perversos, nem toda a carne é fraca e se lhes dermos uma oportunidade até há por aí alguns sapos que são príncipes. A vida não é pura e sempre bonita e inocente como um conto de fadas nem tão feia como quer fazer crer. Homens e mulheres são imperfeitos desde o início dos tempos, gostam de amar sem tabus, sem pudor, gostam essencialmente do que não têm e por vezes não olham a meios para o conseguir; gostamos do risco, da adrenalina desde que Hefesto e Atena criaram Pandora. O mundo real, o mundo dos Homens é imperfeito e dificilmente deixará algum dia de o ser. Será que o desejamos? Somos todos pecadores, uns mais inocentes do que outros, mas não é por um piropo, por um beijo roubado que o mundo vai acabar. O verdadeiro pecado é passar pela vida sem lhe tomar o gosto, querer sobreviver-lhe no falso conforto de uma concha impenetrável, querer ser sempre justo e puro, desperdiçando o tempo a olhar para o lado e a criticar, apesar de todos os nossos telhados de vidro, vivendo tolhidos pelo medo, numa vida fingida com medo de nos magoarmos, de ousarmos ser mais que uma peça na engrenagem, com medo de errarmos, de sermos tão somente aquilo que queremos... felizes.
#oladobdavida2
Porque a vida só merece ser vivida enquanto tivermos a capacidade de sonhar e a perseverança para transformar os sonhos em realidade.
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
A VOZ DAS PALAVRAS - É HOJE QUE MATO UM!...

#oladobdavida2 #nívelzerodepaciencia #aculpaédomotorista
terça-feira, 3 de outubro de 2017
A VOZ DAS PALAVRAS - HOW TO ESCAPE FROM PORTUGAL?
Ter
asas e poder voar, poderia ser apenas mais um daqueles desejos infantis
que nos surgem a quase todos, um dia, enquanto crianças. Mas voar,
desafiar os limites da física e da imaginação, alargar horizontes é,
muito mais do que o sonho de um menino de seis anos a ver os desenhos
animados do Super-Homem pela primeira vez. Centenas de pessoas -
número de passageiros retidos no aeroporto Cristiano Ronaldo, no Funchal - pensaram nisso, com mais desespero mas bem menos afinco e
imaginação do que antes haviam feito Da Vinci, Santos Dumont, Gago
Coutinho e Sacadura Cabral, Júlio Verne ou mesmo um lunático mas
empreendedor Howard Hughes. O Homem inventou o progresso à custa de mil e
uma necessidades, do bem estar colectivo, da ambição pessoal ou - como
dizia o sábio Orson Welles - pelas mulheres. "Se não fossem as mulheres,
o Homem ainda estaria agachado em uma caverna, comendo carne crua. Nós
só construímos a civilização com o fim de impressionar as nossas
namoradas". Do fogo à roda, dos pés assentes no chão às nuvens foi um
instante. Quando Neil Armstrong pisou a Lua, a 21 de Julho de 1969, o
céu já tinha deixado de ser o limite, num mundo em constante
desenvolvimento. "Um pequeno passo para o Homem" era o mote para o
futuro, uma porta aberta a um manancial de novas e importantes
descobertas a todos os níveis. "Até ao infinito e mais além!",
prenunciava o simpático e arrojado Buzz lightyear, inseparável
companheiro de aventuras de Woody, em Toy Story. Mas eis que em pleno
ano de 2017, e fartos de encher o peito de ar com a bandeira do
progresso e da tecnologia sofisticada, o Homem regressa à sua condição
de anjos de asas cortadas, na expiação de uma panóplia incomensurável de
pecados contra os seus semelhantes e contra a humanidade. E tudo por causa de uns ventos mais fortes - 65 a 75 quilómetros por hora - que têm assolado aquela região nos últimos dias e que promete prolongar-se ainda durante algum tempo. Impedidos os aviões de voar como mitológicos Ícaros de asas
queimadas mas desta vez por causa de forte ventania, centenas de passageiros, compromissos adiados, sem alojamento que não os bancos desconfortáveis do
aeroporto, a terem de encarar o busto inolvidável do craque português do Real Madrid, a permanência forçada na pérola do Atlântico, como um
Auschwitz improvisado, motivou uma reacção curiosa de um estrangeiro
cuja proveniência já esqueci: "How to escape from Portugal?". E de
repente damos com Portugal, ao contrário das palavras encorajadoras e sempre optimistas do nosso
Presidente, ao nível de uma Grécia, como um jardim que já foi corte de Alberto João, à beira mar plantado
mas já sem flores, os bolsos furados e vazios insuflados, prenhos de um
orgulho duvidoso e que não enche a barriga, um país ainda adiado, vivendo ligado à máquina, alimentando-se de promessas e ilusões, como se o futuro fosse um vôo nocturno sem radar, um mortal
num trapézio desprovido de rede, um navio... de onde todos os ratos já
fugiram. E se Baptista-Bastos estava afinal enganado quando escreveu que
"o Homem quando quer consegue tudo - até voar" - com excepção da Tap -, pergunto-me eu: how to
escape from Portugal?
#oladobdavida2 #cristianoronaldo #madeira #tap
#oladobdavida2 #cristianoronaldo #madeira #tap
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
DEVAGAR DEVAGARINHO - 6ª parte
15 e 16 de Julho de 2014
Sem pressas, sem stress é o lema dos gregos, pelo menos os que vivem em Santorini. E não vale a pena discordarmos, levantar-lhes a voz, pedirmos urgência seja naquilo que for porque o resultado irá ser igual: Calma, Take It Easy! E assim a vida segue devagar devagarinho no que poderia ser uma pasmaceira mas que aqui é um agradável passeio que nos dá tempo para apreciar condignamente todas as maravilhas deste pequeno paraíso. O transito chega a ser caótico de tão lento. Ninguém corre para ver a bola ou a novela das sete. Nas rotundas chega-se a dar prioridade a quem vem de fora e não raras vezes os vemos de volante numa mão e telemóvel na outra.
Com a nossa aventura a chegar ao fim os dias parecem ser cada vez mais curtos para o muito que queremos fazer, mas até nós somos contagiados pelos nativos da ilha. Voltamos a Fira para comprar as últimas lembranças e a salada mediterrânica continua a fazer parte do nosso dia a dia. Oportunidade para uma troca de alianças sob o simbolismo de uma relação para a eternidade. Santorini é uma ilha para os amantes e para os prazeres da vida. Voltamos a ouvir falar português, mesmo que por pouco tempo.
O cheiro das despedidas paira no ar. Mistura-se com o cheiro agrídoce da saudade, porque só sentimos saudades do que nos fica no coração. É aí que vão ficar aqueles que em tão poucos dias nos conquistaram muito mais que um sorriso e que guardaremos para sempre nas nossas melhores memórias. Ioannis, Christy, Minas e suas famílias com aquela simpatia e alegria contagiante próprias dos países desta zona do globo.
#santorini #oladobdavida2
segunda-feira, 7 de agosto de 2017
A VOZ DAS PALAVRAS - DAS COISAS DA VIDA E DA MORTE
ou A SENSIBILIDADE DA LÁGRIMA
Ao momento que me distraio com estas linhas não sei ainda se uma amiga continua ou não entre nós, se algum dia chegará a ler estas linhas que tão poucas vezes custaram tanto a fluir como agora. Mais do que vitórias e derrotas que tanto ocupam as nossas conversas, pensamentos e acções, que consomem grande parte da nossa vida num desperdício injustificável, a vida é feita de batalhas desde o dia em que lutamos para nascer, para termos o direito, o privilégio mas também a responsabilidade de entrarmos no jogo, de podermos fazer dessa mesma vida algo melhor. As amizades, como esta, não precisam de grande tempo para crescer, dispensam o fermento dos anos sobrevivendo e aumentando apenas com o adubo da sensibilidade, das pessoas boas por natureza, que não enganam, transparentes no olhar como no coração. Ao momento que escrevo não procuro o olhar atento de quem me possa ler, apenas dou liberdade a emoções que necessitam de sair do mais íntimo do meu ser, as quais largo aqui como se fossem cavalos selvagens numa pradaria verdejante porque existem pessoas cuja dimensão é tão grande para ficarem confinadas no baú das lembranças, pessoas boas depois mas também antes do derradeiro adeus.
Ainda hoje se fazem ouvir os ecos da entrevista ao pai da menina que morreu - juntamente com outro banhista - vítima da queda de uma avioneta numa praia da Costa da Caparica na semana que passou, na maioria pouco abonatórios, insultuosos até na forma como apregoam uma moralidade de algibeira, como se todas as pessoas tivessem de obedecer a um comportamento estandardizado para cada situação. O homem tinha acabado de perder a filha e já estavam nas redes sociais, nos cafés, nos blogues, acusações desde ele ser insensível, anormal, que em vez de pai deve ser padrasto até estar a pensar em ganhar dinheiro com a tragédia, meter nojo, ser um porco, etc etc etc. E tudo porque... falou de forma ponderada, porque aparentou insensibilidade com a morte da filha. À distância dos factos e - felizmente - das emoções só me lembro de lhe chamar de ingénuo. Bastava uma lágrima, homem! Tão só e apenas uma lágrima seria suficiente para silenciar estes abutres sempre prontos a disparar, para fazer sangue em troca de 15 minutos de fama, mesmo que o sangue seja o de um pai que acabou de perder a filha. Infelizmente, nos dias de hoje, tão depressa se brinca com a vida como com a morte, tudo vale, tudo é permitido, como o humorista que brincou com a situação perguntando "Quando é que volta a ser ok em Portugal dar comida a uma criança com a frase 'olha o aviãozinho'?"
Ainda a propósito de lágrimas, já a mãe de Maddie McCann foi alvo de acusações graves e condenada em tribunal popular alguns anos atrás pela insensibilidade de não ter chorado durante uma entrevista em que falava da filha desaparecida. Quanto vale uma lágrima no país da hipocrisia e do julgamento fácil? Na verdade da mentira quantas lágrimas são vertidas gratuitamente e quantas gargalhadas soltas num choro contido É a lágrima o barómetro da emoção e dos sentimentos genuínos?
Hoje a super-equipa do Barcelona recebe a equipa da Chapecoense para o troféu Juan Gamper. Mais do que um mero jogo de futebol, do valor de uma vitória ou de uma derrota importa celebrar o valor da vida e o regresso aos relvados de Alan Ruschel, um dos sobreviventes do trágico acidente que vitimou quase toda a equipa brasileira. Com ou sem lágrimas, independentemente de quem vencer dentro das quatro linhas, hoje também eu sou Chape. Que vença o futebol. Que vença a Vida. Que vença a Humanidade.
#oladobdavida2 #morte #avionetacosta #meninodalágrima #maddiemccann #chapecoense
terça-feira, 1 de agosto de 2017
O MELHOR PÔR DO SOL DO MUNDO - 5ªa parte
13 de Julho de 2014.Continuamos a desfrutar do tour Ilha do Vulcão-Hot Springs - Oia, desta vez com paragem em Oia e os seus mais de 200 degraus do porto até ao centro de Oia, certamente a localidade mais cara desta zona das ilhas gregas, rica em joalherias, propriedade na maior parte de pessoas do leste europeu. Tivemos sorte com o lugar que nos foi sugerido, apesar das quase duas horas de espera mas valeu a pena. À mesma hora e, aproveitando a ocasião, houve um casamento que veio dar outra cor e festividade a uma ocasião já de si ímpar. Inesquecível, muito aquém das imagens gravadas entretanto perdidas, das palavras apoiadas na memória. Um daqueles dias para mais tarde recordar, não vá a memória trair-nos.
sexta-feira, 28 de julho de 2017
HÁ MAR E MAR, HÁ IR E VOLTAR EM THARISSA - 4ª PARTE
13 de Julho de 2014. 5º dia em terras helénicas consagrado a uma excursão à ilha do vulcão, nadar nas Hot Springs junto do mesmo e Pôr do Sol em Óia. A verdade é que não estávamos preparados para tudo o que nos foi dado a ver e sobretudo sentir e tudo por apenas 34 euros por pessoa. Conhecer o vulcão é um pouco restrito dado que pouco existe para ver excepto montes e montes de rocha vulcânica e longos e longos minutos a andar debaixo de um sol escaldante mas húmido, característico da Grécia. Novamente, é toda a vista até onde o olhar consegue alcançar que vale cada segundo do nosso tempo. A fusão de tons do azul do mar e do céu é algo indescritível.
A grande aventura propriamente dita no que toca a emoções fortes tem início na despedida do vulcão e na paragem nas águas quentes em redor do mesmo para os turistas se puderem deliciar com umas braçadas e mergulhos. Para mim, que vou de uma ponta à outra em menos de um minuto - na banheira - estar ali e não ir à água era como ir a Roma e não ver o Papa. Insensato, fiz com que elementos da tripulação tivessem de ir resgatar-me num bote com o auxílio de uma bóia e também da minha esposa, depois de durante uns segundos que pareceram horas ter contemplado o fundo do mar. Refeitos do susto, o barco tomou o rumo de Tharissa e para quem não conhece nem ouviu sequer falar, descrever Tharissa é como estarmos no Portinho da Arrábida mas numa escala cem vezes mais atraente, moderna, virada para o bem estar de quem a visita. Com a câmara de filmar a precisar de ser carregada deixámo-la, a medo em cima de uma cadeira no piso inferior enquanto íamos ao primeiro andar almoçar desfrutando de uma vista magnífica. Quando terminámos, sem pressas, ainda lá estava, apesar da quantidade de pessoas que por lá tinha passado.
Montes de emoções e adrenalina mas o melhor ainda estava guardado.
#santorini #tharissa
quarta-feira, 19 de julho de 2017
REIS SEM TRONO - 3ª PARTE
12 de Julho de 2017. 4º dia em Santorini dedicado a visitar Akrotiri, neste caso o velho castelo em ruínas mas com uma vista inigualável, pensávamos nós, porque a viagem ainda iria trazer muitas surpresas, muitas memórias. A parte da tarde foi reservada para um merecido descanso na piscina, após um almoço a lembrar A Dama e o Vagabundo.
domingo, 16 de julho de 2017
A VOZ DAS PALAVRAS - FÚRIA DE VIVER

"Jovens
e nus frente ao mar, estão presentes em cada célula do seu corpo. Mas a
vida que têm é demasiado para eles e não sabem que fazer dela. Emergem
da água rutilantes e riem. Depois deitam-se na areia, gastam o dia e a
noite a amar-se, a embebedar-se, a estoirar todo o prazer e forças que
têm. E ficam ainda com vida por gastar. É desses sobejos já com bolor
que terão de viver depois na velhice."
in Escrever, de Virgilio Ferreira
Crítico.
Podem pensar que sou demasiado crítico, porque sou. Ou talvez apenas
céptico. Não que seja perfeito, longe, quão longe me encontro eu desse
patamar. Talvez seja por isso, consciente de cada uma das minhas
imperfeições que reconheça mais facilmente os meus e os erros dos
outros. Porque a vida é demasiado curta, o futuro é algo sério para ser
levianamente encarado e o presente um bem tão precioso e efémero que não
deve nem pode ser adiado ou simplesmente deixado para trás, nas
incúrias de quem não sabe parar para degustar o sabor das cousas. A mais
de meio caminho dessa estrada que separa a infância da velhice,
preocupa-me cada vez mais a maneira como passo os meus dias, reflicto no
que fiz, no que posso ainda fazer, no tempo que tenho. Já não vejo a
vida numa perspectiva de quantidade mas mais de qualidade, por isso não
preciso de correr atrás de um mundo inteiro de coisas por descobrir, de
experiências novas. Pouco pode significar quanto baste, desde que não me
contente com metades e usufrua ao máximo daquilo que as minhas mãos
ainda conseguem alcançar. Correndo, posso perder muito mais do que a
lebre da história da tartaruga, posso perder os pequenos mas
maravilhosos detalhes, pequenas coisas a que raramente damos importância
em tempo útil, sentimentos, emoções que só por vezes uma breve pausa e
os olhos da alma conseguem vislumbrar. Vivi tempo demais no lado errado
da janela para não saber hoje do que falo. Embebedar-se, ousar,
arriscar, "viver" até cair para o lado, não equivale a qualidade de
vida. De que me adianta uma experiência intensa se quando acordar não me
lembrarei de nada? Não descubro onde está o herói, o corajoso, o sábio,
que rouba dum supermercado o que não precisa, que consegue andar num
transporte público sem pagar porque conseguiu enganar alguém, o que é
transportado em ombros ao fim da noite, porque mal se consegue já
aguentar de pé, quanto mais articular duas palavras seguidas. Vem-me à memória - entre tantos exemplos - a viagem de um grupo de estudantes, respeitáveis exemplares de uma geração
pós-morangos, a das calças para baixo, fiéis seguidoras do desrespeito,
para quem a distinção entre deveres e direitos está como a ficção para a
realidade, extravasaram as fronteiras geográficas deste pequeno jardim e
invadiram um hotel em Maiorca, onde, fazendo jus ao lema do pau que
nasce torto jamais se endireita, depois de um início de viagem azíago,
com a polícia a descobrir algumas substâncias ilícitas entre a comitiva,
terminaram a viagem a ter de pagar os inúmeros estragos causados
durante a estadia, que de permeio teve ainda um acidente fatal para um
dos jovens. Acidente que não foi o suficiente para lhes fazer parar essa
"fúria de viver" como se o tempo lhes fugisse e o tino não lhes
alcançasse. Um pequeno exemplo, trágico como tantos outros que
diariamente vemos diante de nós, de uma sociedade sem lei nem roque,
onde a autoridade, da polícia, paterna, dos professores é pura
demagogia, resquícios de um tempo distante nos ponteiros inflexiveis de
uma vida raramente justa, muito menos fácil. E no entanto continuamos,
insistimos em desperdiçá-la com quezílias, com atitudes insensatas e
inconsequentes, esquecidos dos valores, de tudo o que é mais importante,
a amizade, o amor, o respeito. Futuro? O futuro é hoje uma incógnita,
uma equação indefinida dependente de factores inconstantes e
imprevisiveis, em que tão depressa acredito como a seguir me assustam.
quinta-feira, 13 de julho de 2017
SANTORINI 3 ANOS DEPOIS (2ª PARTE)
Dia 3º - 11 de Julho de 2017
O terceiro dia foi consagrado à visita à capital, Fira, localizada na borda de um penhasco de 260 metros. Fira é algo de indescritível a exemplo do resto da ilha, um emaranhado de ruas estreitas mas difíceis de uma pessoa se perder, lojas, restaurantes e sobretudo uma vista de tirar a respiração. O comércio é quase todo gerido por estrangeiros - sobretudo do Leste - e aproveitámos, numa dessas ruas exíguas para tirar fotos vestidos a preceito dos tempos antigos. Mais uma vez o inglês foi uma ajuda quase indispensável na comunicação mas encontrámos outras pessoas a falar português com ou sem sotaque, como alguns brasileiros com quem aproveitámos para matar saudades da nossa língua materna. Pitoresco é a presença de vários burros onde os turistas podem andar, uma das principais atracções de Santorini no geral e Fira em particular. Dia consagrado à compra de lembranças a um preço muito em conta e a fotografias que não conseguem espelhar todas as sensações por nós vividas.
quarta-feira, 12 de julho de 2017
SANTORINI - 8 DIAS NUM SONHO EM TONS DE AZUL E BRANCO
DIAS 1 e 2
9 e 10 de Julho 2014
Três anos decorridos, a viagem dos nossos sonhos continua ainda bem presente na minha memória e da minha esposa. Havia três, quatro hipóteses mas a ilha grega de Santorini foi uma escolha consensual e não muito demorada.Afinal, o pouco que já tinhamos visto nas revistas e na televisão sobre a ilha repleta de casas pintadas de azul e branco era mais do que suficiente para nos aguçar o desejo e a imaginação.
AVIÕES E AEROPORTOS
Para quem nunca tinha andado de avião, o bulício dos aeroportos e dos check-in's, toda a excitação do baptismo de voo serviu para atenuar apenas ligeiramente o stress de horas e horas sentados no avião e de duas escalas, em Inglaterra e em Atenas, na Grécia, onde surpreendentemente nos foi permitido sair do aeroporto e respirar um pouco de ar puro. De negativo a sujidade nos wc's e as exíguas "gaiolas" para fumadores, tudo no aeroporto de Lisboa, onde os fumadores - não o meu caso - são autenticamente descriminados como se fossem criminosos.
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exterior do aeroporto de Atenas |
AKROTIRI e ADAMASTOS HOTEL
A primeira imagem de Santorini chegou-nos auspiciosa com a visão do nascer do sol, ainda bastantes metros acima do solo. O aeroporto é tão pequeno que chega a parecer um exercício bastante improvável conseguir sem cair ao mar ou embater nos pequenos edifícios que o constituem. A viagem de táxi até Akrotiri com destino ao Hotel Adamastos não é longa, mas surpreende e desilude inicialmente quem esperava uma paisagem idílica junto à enorme falésia e às suas casinhas tão características. A paisagem é rural e o bulício das grandes zonas turísticas não chega até ali. É o problema das expectativas prévias que geralmente saem defraudadas. Afinal de contas, tinham-nos dado tudo o que pedíramos, um local sossegado perto das praias e a cerca de 20, 30 minutos de autocarro dos grandes centros como Fira ou Óia. O hotel é bastante rústico e acolhedor a começar pela família que o gere e que nos congratula com uma simpatia própria das gentes gregas. Kalimera ou Bom Dia era e foi a única palavra que conhecíamos mas fosse através dum inglês arcaico ou por linguagem gestual nunca houve barreiras que nos distanciassem de um povo que sabe como receber.
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iogurte grego |
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o interior do Adamastos |
FAMILY TAVERN
Depois de um primeiro dia extenuante gasto em viagens o segundo dia serviu para usufruirmos da piscina e conhecer um pouco de Akrotiri, com destaque para a procura de um local aprazível para as nossas refeições. Depois de uma experiência um pouco atribulada ao almoço, o jantar já foi no belíssimo Family Tavern, com uma vista privilegiada aliada a um ambiente peculiar e à simpatia dos donos, uma família a fazer lembrar os filmes gregos e italianos antigos.
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uma sobremesa especial no final de cada refeição, oferta da casa. |
sexta-feira, 19 de maio de 2017
quarta-feira, 17 de maio de 2017
PENSAMENTOS
As estrelas são os poetas que fazem descer até nós versos de luz. Nos
dias tristes, depressivos, os versos perdem-se nos negros e cinzentos. E
eu sem poesia perco-me nos labirintos da angústia. - Augusto Gil
terça-feira, 16 de maio de 2017
A VOZ DAS PALAVRAS - O BLOGUE DA VIDA
Já me perdi no tempo desde as minhas primeiras linhas neste blog.
Nesse dia, com o coração cheio de dúvidas fiz o que não costumo fazer:
arrisquei. Não sabia se o fazia para minha auto-satisfação ou para
dirigir-me aos outros da maneira que melhor sei, p'las palavras que
escrevo. Não sabia quantos dias iria resistir até que o desapontamento
dos primeiros revezes me vencesse, como não sabia também se conseguiria
responder ao tempo que um blog consome na sua criação. Hoje subsisto
repleto de dúvidas porque descobri que a nossa ignorância é sempre
proporcional à nossa sabedoria. Quanto mais aprendemos mais nos damos
conta do muito pouco que sabemos. Alguém disse um dia "só sei que nada
sei", e no pouco que sabia era um sábio. Passado todo este tempo aprendi
que um blog é muito mais que um monólogo inconsequente em que UM fala o
que quer e lhe apetece na certeza de que ninguém o ouve. Nada mais
errado. AQUI até as paredes têm ouvidos. Aprendi também que o
desenvolvimento da nossa civilização como hoje a conhecemos terá sido
similar à elaboração e manutenção de um blog, pois que, por mais que
façamos nunca estaremos satisfeitos com os resultados obtidos e como tal
não nos daremos nunca por saciados, procurando sempre mais e mais. Mas
ao tempo que eu chegava a estas conclusões, outras questões "martelavam"
o meu cérebro: Será certo perder tempo com os nossos sonhos
indivíduais, mesmo quando esses sonhos nos parecem tão sem importância? É
bem possível que, com algum trabalho consigamos agradar aos outros um,
dois, três dias numa semana, mas nunca todos os dias. Aí esmoreço,
porque se não captar a atenção de quem me lê, todo o meu esforço será em
vão. É difiícil agradar a gregos e troianos e mantermo-nos ainda assim
fiéis aos nossos princípios, sem necessidade de vendermos a alma ao
Diabo. A verdade é que o nosso maior desejo é mesmo agarrar a
expectativa de um indeterminado número de gente e se possível
extrapolá-lo vezes sem conta, porque um blog, como qualquer bom segredo
ou acção que façamos só valerá a pena quando o fizermos chegar aos olhos
e ouvidos de quem possa dar-nos o mérito de que intimamente nos
julgamos credores. E como segurar esse público? Deturpando as bases do
nosso empreendimento, desvirtuando a sua identidade a troco de um pouco
de atenção, dos nossos "quinze minutos" de fama. Não vamos dar-lhes só
poemas, só humor, só polémica ou sexo, mas um pouco de tudo e algo mais
que se possa inventar. Transformamos então a nossa "sopa de pedra" numa
amálgama de condímentos em que a pedra deixou de ser fundamental. É essa
a minha dúvida mais premente, se devo ou não mudar o curso inicialmente
tomado apenas para agradar aos outros ou, pelo contrário, arriscar-me a
um isolamento precoce em que acabamos falando para as paredes. E não é
de blogs que vos falo hoje, aqui, mas da vida e das decisões que todos
teremos, um dia, de tomar.
PÉROLAS A PORCOS

Dá Deus nozes a quem não tem dentes, o governo aumentos p'ra quem tem fome, pensões de miséria para os velhos e doentes, sadismo de quem pode e manda; Basta! Cessem todas as diferenças sociais, toda a lógica mais ilógica, todos os sonhos mais proíbidos. "Não faças isto! Nem penses naquilo! Não toques nisso!", basta de fodas mentais e outras que tais! Há quem morra sem saber, há quem viva sem poder, quem sofra pelo que não tem, pelo que um dia não virá a ser... Feliz! Pôs-te alguém na minha vida, na de quem nunca vais sequer pensar, quanto mais amar amor como eu te amo, tu e eu, pérolas a porcos, dívina previdência de um Deus ateu; Eu aqui, tu nem vês, tão pouco, tão certo, ter-te perto e como louco pregar no deserto.
QUE BOM SERIA
Tenho andado triste nos últimos dias, eu, que só por si já tenho
tendência para ir-me abaixo com facilidade. Apetecia-me que a vida fosse
como um interruptor, que pudessemos desligá-la sempre que isso nos
conviesse. Só que o senso comum diz-me que devo manter-me sóbrio,
distante, de modo a que os outros não colidam entre si, provocando
faíscas cujas chamas seriam difíceis de apagar. Devo ser subserviente e
dar a outra face, porque a razão assim o diz, porque não quero ver os
outros magoados. Os outros... Aqueles que raramente ou nunca pensam em nós, que não se ralam, não querem nem saber, mas que estão sempre lá para se aproveitarem ou para te apontarem o dedo quando ages mal. Que bom seria se pudessemos agir irracionalmente, sermos
mais emotivos e menos frios, pensarmos mais em nós. A vida é tão curta.
Que bom seria se pudessemos saír por aí, agir sem pensar, beijar porque
apetece beijar, abraçar porque estamos contentes, sorrir, rir às
gargalhadas sem vergonha, viver sem termos medo das consequências. Que
boa seria viver como se não houvesse um amanhã.
ANJOS E DEMÓNIOS
"A natureza encarregou-se de transformar as mulheres em nossas escravas. Elas são propriedade nossa." - Napoleão
EM TI

Em ti, após a travessia do deserto, viajante solitário, descansei meu corpo cansado, porto talvez seguro de meus navios. No teu mar lancei minha âncora e as mãos acariciaram de mansinho os teus cabelos, ondas de um oceano revolto rebentando na praia em que me encontraste, concha escondida na areia.
Tito Lívio
ANTI-NATURA
Hoje acordei com vontade de descarregar toda a minha raiva silenciosa
sob a forma de palavras. Desabafar sobre mãos atadas, sonhos desfeitos e
uma agressividade crescente como nunca senti por ninguém antes. Senti
vontade de descrever a impotência de ver o mundo a desabar à minha volta
e eu sem nada poder fazer, sob o risco de sucumbir com ele. Hoje
desejei que o meu blog não fosse visto por ninguém, como se fosse um
"sexta-feira" e eu Robison Crusué, numa ilha perdida da civilização. Que
ideia! Um blog para mais ninguém ver é anti-natura, vai contra os
ideais de quem concebe um blog. E eu, que tantas vezes me tenho queixado
da falta de participação dos poucos que me visitam, queria agora fechar
a porta, por momentos, e colocar o aviso "Não incomodar!". É que por
muito que a escrita me atraia e distraia, nunca escrevemos para nós
mesmos. Somos censores daquilo que escrevemos, pelo medo de nos
"desnudarmos" em demasia aos olhos daqueles a quem queremos cativar, o
que é, só por si também, anti-natura. Ontem alguém me disse que não lhe
cativa a ideia de um blog, porque a melhor e mais eficaz forma de
comunicar algo seja a quem for é cara a cara. Assino por baixo, apesar
de nunca ter sido fiel seguidor dessa doutrina, preferindo - erradamente
- calar, guardar, sufocar-me por dentro, entupido em palavras mudas,
que apenas saíam de vez em quando para mancharem a alva virgindade de
resmas e resmas de folhas A4. HÁ pessoas assim, que com medo de
magoarem, sacríficam-se a ver a vida esfumar-se através de uma janela
fechada, combatendo guerras internas que deflagram por dentro de nós e
ninguém mais as vê, caixas vazias esfomeadas de tudo, de quase nada, de
qualquer coisa que justifique o simples facto de viver,pessoas que se
resguardam em torno de si mesmas pretendendo assim evitar a dor e o
sofrimento, como casulos, onde a vida não consegue entrar.
SAUDADE

Porque a ausência não é o bastante para que nos esqueçamos daqueles que amamos, e embora seja cada vez mais difícil conservar pequenos detalhes, conversas ou traços fisícos, trejeitos com que a memória me atraiçoa, nunca deixarei de recordar aquilo que realmente importa, toda a preocupação com a educação e com os valores fundamentais que sempre procuraste incutir-nos, a diferença entre o certo e o errado que mais cedo ou mais tarde acabamos por distorcer, mediante os nossos interesses, mas sobretudo, e principalmente, todo o amor que sentias - mesmo que por vezes não encontrasses a melhor forma de exprimi-lo. Talvez por ser uma particularidade tão caracteristica de um dos lados da família, essa dificuldade inata de soltar os sentimentos em sons, palavras, risos e lágrimas. Talvez por isso nunca tenhamos tido uma oportunidade de "gritar" tudo o que no fundo nos unia, receios e esperanças, mais beijos e abraços, palavras, medos, agradecimentos, mais amor. Sinto uma eterna e infindável saudade de todos esses momentos que tendo a esquecer pouco a pouco, mas que deixam um vazio imenso que não deixa "apagar" a falta que tu me fazes, e que se faz sentir com maior intensidade em dias como hoje. Porque será que deixamos sempre passar os momentos? Porque será que nos custa tanto abrir a boca e dizer: "Amo-te"?
PRECE

Até
que ponto pode um corpo suportar tanta dor? Quantos dias poderemos
suportar quase sem comer, quase sem dormir, alimentando-nos quase e só
de gemidos intensos e preces sem resposta? Como aceitar a ideia de um
Deus todo poderoso e misericordioso, se tanto o corpo como a alma são
castigados sem justificação até aos limites do suportável, como uma
coroa de espinhos cravada na nossa pele para expiação dos pecados dos
outros? Senhor, se porventura Existes, tende misericórdia daqueles que
sofrem!
sexta-feira, 12 de maio de 2017
O AMOR É FODIDO

Miguel Esteves Cardoso - "O Amor é Fodido"
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