segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A VOZ DAS PALAVRAS - É HOJE QUE MATO UM!...

Sorte de quem não tem no seu dia a dia de lidar sistematicamente e quase ininterruptamente com o público. Não sabem como vos admiro e como sorrio com uma grande dose de forçada benevolência quando dizem que cada vez têm menos paciência para isto ou para aquilo. Venham acordar às cinco da manhã, venham fazer noites de fim de semana, sobreviver às horas de ponta numa selva de gente apressada, egoísta e mal educada para quem vocês são uma cambada de mal-agradecidos que deviam estar gratos por servi-los, dado que são eles que vos pagam o ordenado. E se em cada adepto existe um treinador de bancada, em cada cliente existe um patrão, cada um mais exigente do que o outro, com o sorriso ainda mais caro do que o bacalhau e o olhar típico "não me chateies ou vais ter de levar com o meu mau humor daqueles mais cinco minutos interrompidos a golpes de despertador". O cliente tem sempre razão e o dos transportes públicos tem ainda mais, especialmente desde que passou de passageiro a cliente e as empresas passaram a correr atrás deles como empregados de restaurantes em plena hora de almoço, tentando fidelizá-los. tratando-os como se fossem a última bolacha do pacote, mesmo que passem a vida a reclamar de tudo e de nada. Não podes dizer-lhes que viram mal o horário e que o c... do barco das 8h35 não está atrasado mas que sai, sim senhor, da outra margem do rio e não desta. O horário é que devia ser mais explícito. Não podemos dizer à sra doutora que perdeu o barco à conta dos tais cinco minutos, mas sim porque o nosso relógio deve estar adiantado, o motorista do autocarro vinha a pisar ovos ou porque o barco saiu à hora certa - sim, também aí somos culpados - quando o resto da semana andou a sair um minuto atrasado e não nos custava nada ter esperado mais um bocadinho assim, tipo danoninho mas esticado à proporção daquelas baguetes que costumamos ver nos filmes franceses, embrulhadas em papel de jornal. Devemos compreender ainda que a ausência de um eco ao nosso bom dia se deve mais à falta de tempo do que a uma falaciosa e aparente má-disposição, porque há gente que tem horários a cumprir e não pode desperdiçar esse tempo tão precioso com banalidades disfarçadas de boa educação. O cliente não é mal educado porque quer mas porque o seu clube perdeu no dia anterior, porque discutiu com a mulher, os filhos não o deixaram dormir ou simplesmente porque entrar às dez da manhã devia ser proibido. O cliente não é parvo porque te pergunta a que horas sai o barco quando apanha o mesmo todos os dias à mesma hora e à tua resposta insiste se não há nenhum antes do próximo. Ele só quer saber se estás no sítio certo, se sabes o horário e se tens os conhecimentos necessários para desempenhar a função para a qual ele te está a pagar. Eu sei que tenho mau feitio, que devia desvalorizar quando me chamam de filho da p... e vai pró c..., porque isso são desabafos de quem tem vidas stressantes e que no fundo, no fundo até são, não amigos mas condescendentes com a nossa posição subalterna em relação à sua categoria, mas que um dia ainda mato um, lá isso!... no mínimo faço.lhe um dói dói.
#oladobdavida2  #nívelzerodepaciencia #aculpaédomotorista

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