Hoje acordei com vontade de descarregar toda a minha raiva silenciosa
sob a forma de palavras. Desabafar sobre mãos atadas, sonhos desfeitos e
uma agressividade crescente como nunca senti por ninguém antes. Senti
vontade de descrever a impotência de ver o mundo a desabar à minha volta
e eu sem nada poder fazer, sob o risco de sucumbir com ele. Hoje
desejei que o meu blog não fosse visto por ninguém, como se fosse um
"sexta-feira" e eu Robison Crusué, numa ilha perdida da civilização. Que
ideia! Um blog para mais ninguém ver é anti-natura, vai contra os
ideais de quem concebe um blog. E eu, que tantas vezes me tenho queixado
da falta de participação dos poucos que me visitam, queria agora fechar
a porta, por momentos, e colocar o aviso "Não incomodar!". É que por
muito que a escrita me atraia e distraia, nunca escrevemos para nós
mesmos. Somos censores daquilo que escrevemos, pelo medo de nos
"desnudarmos" em demasia aos olhos daqueles a quem queremos cativar, o
que é, só por si também, anti-natura. Ontem alguém me disse que não lhe
cativa a ideia de um blog, porque a melhor e mais eficaz forma de
comunicar algo seja a quem for é cara a cara. Assino por baixo, apesar
de nunca ter sido fiel seguidor dessa doutrina, preferindo - erradamente
- calar, guardar, sufocar-me por dentro, entupido em palavras mudas,
que apenas saíam de vez em quando para mancharem a alva virgindade de
resmas e resmas de folhas A4. HÁ pessoas assim, que com medo de
magoarem, sacríficam-se a ver a vida esfumar-se através de uma janela
fechada, combatendo guerras internas que deflagram por dentro de nós e
ninguém mais as vê, caixas vazias esfomeadas de tudo, de quase nada, de
qualquer coisa que justifique o simples facto de viver,pessoas que se
resguardam em torno de si mesmas pretendendo assim evitar a dor e o
sofrimento, como casulos, onde a vida não consegue entrar.
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