segunda-feira, 15 de abril de 2019

A VOZ DAS PALAVRAS

O FEMINISMO (S) EM SALTOS ALTOS
Ou a diferença entre putas e santas 

Andava há uns tempos para falar de Joana Bento Rodrigues, a quem, concorde-se ou não com a frontalidade quiçá ingenuidade das suas convicções, apetece tirar-lhe o chapéu, mais que não seja por uma exposição mediática a que poderia facilmente ter fugido. Não foi o caso. Joana, médica ortopedista de profissão, tem 37 anos, sabe portanto o que é ser uma mulher activa em Portugal, numa perspectiva profissional e emocional. Defende que uma mulher pode sentir-se realizada enquanto cumpre as suas tarefas domésticas e que a maioria das mulheres não se incomodam se ganharem menos que os seus companheiros do chamado sexo forte, porque se sentem protegidas e seguras. Diz mesmo que grande parte das mulheres não trabalhariam se não precisassem. Acrescenta ainda que muitas concordam consigo e que só por medo da "ditadura social do politicamente correcto" se remetem ao silêncio. Define-se como anti-feminista no sentido deturpado que tem sido dado à palavra. Ser feminista não é o contrário de ser machista, não é lutar por falsas questões como a lei da paridade como se a igualdade de género em cargos políticos ou outras nomeações fossem mais importantes que o simples merecimento ou capacidade, independentemente do facto de ser homem ou mulher. 
Durante o último campeonato do Mundo de futebol a Fifa deu instruções às cadeias de televisão internacionais para evitarem as já habituais imagens de mulheres bonitas nas bancadas, como uma forma de luta contra um sexismo cada vez mais enraízado na sociedade. Sinais dos tempos. Lia-se no texto que "focar nas raparigas que podem ser consideradas atraentes - e as feias, pode? - é trazer uma carga sexista desnecessária ao futebol". Deixemos-nos de ser mais papistas que o Papa. Pergunto-me: se a beleza é um conceito abstracto e está nos olhos de cada um qual será o critério a utilizar pelas diferentes operadoras face a toda esta hipocrisia e falsos moralismos de uma sociedade em que os telhados de vidro crescem como cogumelos em cada esquina? A solução para acabar de vez com uma imagem nem sempre dignificante para a Mulher não é fingir que não existem mulheres bonitas, especialmente depois de passarem horas a aperaltarem-se por um momento de uma fama ilusória mas mesmo assim captada para a imortalidade. Não são os movimentos Me Too em que as mulheres surgem como falsas virgens ofendidas que vão granjear o respeito que devem e merecem ter. A atitude, o feminismo, a personalidade, não são roupas que se vestem, não aumentam ou diminuem consoante a quantidade de batom, a escolha de uns ténis ou de um sapato de salto alto. Vamos desmistificar de vez a ideia de que uma mulher atraente não pode ser inteligente e que uma mini-saia ou um decote mais ousado e atrevido são meros embustes para "caçar" bons partidos ou conseguir uma promoção. Só se preocupa com pormenores deste calibre quem não tem argumentos para se destacar, nem intelectuais, muito menos físicos e a isso eu chamo simplesmente... despeito. 
Dizem que à mulher de César não basta ser séria, tem de o parecer. Talvez por isso a carreira política de Gabriela Ventura, ex-gestora do Proder nunca tivesse tido pernas para andar, a carreira não a senhora, cujas pernas nunca deixaram ninguém indiferente, como se ter bons predicados físicos equivalesse a um atestado de incompetência. Não fossem mentalidades tacanhas e desconfiadas e não estaríamos a comentar a lei da paridade. Aliás, por falar em tacanhos também os enfadonhos e cinzentos britânicos fizeram aprovar recentemente uma lei que bane os estereótipos de género na publicidade, tentando evitar que todos os homens pareçam líderes, agressivos ou desmiolados nas lides domésticas e as mulheres sejam vistas como objectos sexuais ou criaturas fúteis. Não foi sempre assim? Deixará de o ser um dia, por mais leis que se façam? Mas aos ingleses já ninguém passa cartão. Sempre foram protestantes e indecisos, vide Brexit. À supressão das grid girls na fórmula 1, Lewis Hamilton respondeu com um elogio: "As mulheres são o que de mais belo há no Mundo", palavras de um campeão que merecem da minha parte total concordância, se exceptuarmos, claro,  o caso das feias e desdentadas que vivem para lá de Trás Os Montes.

3 comentários:

  1. Interessante texto
    Gostei de ler
    Abraço

    Kique

    Hoje em Caminhos Percorridos - Mulher tímida

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  2. Será que muda? Difícil? Evoluímos, mas a questão da mulher parece não mudar.

    Beijinhos, amigo.

    Proseando num dia

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    Respostas
    1. Sou um optimista por natureza, realista também o que fará de mim um pouco conformado e céptico por contra-senso. É difícil mudar mentalidades mas moldar as dos nossos filhos será bem mais fácil, assim queiramos realmente a mudança. Beijinhos, amiga.

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